A
Caminhada dos Primos das Famílias Pereira, Santos e Castor e Amigos
Irmãos,
primos, sobrinhos e amigos, das famílias Pereira, Santos e Castor, nos dias 24
e 25 de março de 2017, estiveram reunidos para realizarem uma caminhada, ida e
volta, num percurso entre os povoados de Terra Nova e Paranaguá, distantes um
do outro, aproximadamente, uma légua ou 6 (seis) km. Portanto, um percurso de
12 Km.
Muitos
amigos e parentes perguntaram o porquê dessa caminhada. Promessa? Questão
religiosa? Questão política? Nada disso. O problema é que nós, parentes e
amigos que já não moramos em Terra Nova, temos dificuldade de nos reunirmos e só
vamos em Terra Nova para enterros e, às vezes, casamentos. Por isso, fizemos
essa 1ª Caminhada.
O
bom disso tudo é que muitos, dentre os parentes e amigos, que não puderam estar
presentes nesta 1ª Caminhada, muitos já estão pedindo para realizarmos uma 2ª
Caminhada. Aconselhamos a todos que comecem a fazer caminhadas diárias ou, pelo
menos, três vezes por semana e aguardem. Em breve, seremos convocados para essa
2ª Caminhada.
*1º fruto dessa Caminhada: Foi
criado um grupo no whats app, famoso zap, para mais fácil e mais constante
comunicação entre os primos.
Concentração
Às
8 horas da manhã de um sábado ensolarado, na casa de D. Rolinha, no bairro
Caraconha, em Terra Nova, aconteceu o início da concentração para a caminhada. Eram
caminheiros os irmãos Tonho, Rita e Ana, da Família de D. Rolinha e “Seo”
Antônio Pereira; os irmãos Cosme, Nilson e Nilzélia e a sobrinha Adriana, da
Família de D. Bem e Frutuoso Castor, o Nonô de Paranaguá; Bau, da Família de D.
Vivi e Carlos Santos, o Tio Santinho; e os amigos Nena e Pedro, de Terra Nova e
Neta e Cica, de Salvador. Alguns já estavam ali. Outros chegaram das cidades de
Feira de Santana e de Salvador, onde moram. Além desses primos, irmãos,
sobrinha e amigos, Nilda, Verinha, Mercedes, Wilson, Tuca, Jaiminho e Djainha,
dentre muitos outros, por motivos particulares, deixaram de participar da caminhada.
A
arrancada
Depois
do bate papo da chegada e de umas três cervejas consumidas no vizinho bar de
Nelson, o grupo saiu para a Caminhada. Passaram ao lado do mercado, foram pela
ponte, sobre o Rio Pojuca, que liga as duas partes da cidade.Dali, seguiram
pela área onde, antigamente, ficavam as instalações da Usina Terra Nova.
Bobó
vai ou não vai?
Nesse
trecho, encontraram mais um primo, o Geraldo ou Bobó, da Família Pereira, que
dirigia um carro de mão, cheio de carne de boi, uns 2 kg, mais ou menos. O grupo
sugeriu que ele deixasse aquela carne num freezer do barzinho de um amigo, ali
perto e acompanhasse o grupo na Caminhada, até Paranaguá. Ele quase aceitou mas
lembrou-se de um compromisso que tinha com a esposa e desistiu.
Wilson
se perdeu
Enquanto
parados, decidíamos pela ida, ou não, de Bobó, passou um amigo, de moto, e
avisou que Wilson, outro primo, estava perdido. Ele estava procurando o grupo,
pelo centro da cidade. Pedimos que lhe avisasse sobre a nossa posição, no
percurso.
Fomos
embora
Continuando,
seguimos em direção à saída da cidade. Logo adiante, em frente a um ginásio de
esportes, dobramos à esquerda, entrando numa estrada sem calçamento, que
passava pelo bambu. Era um caminho tradicional.
Bau
nos alcançou
À
altura do final do 2º, para o início do 3º Km de caminhada, fomos alcançados
por Bau. Ele disse que correu de Terra Nova até ali. O grupo desconfia que ele
foi de motoboy até bem perto, dispensou o rapaz e correu uns 20m (vinte metros,
mesmo). Mas mostrou que estava em forma, correndo tanto, diferente de Wilson,
que preferiu ficar aguardando a nossa volta.
A
Paisagem
Duas
palavras:
-
Bela
paisagem!
Pelo
caminho, enquanto andávamos, apreciávamos a bela paisagem que, animadamente,
parecia andar conosco. Lembrávamos do tempo de criança, quando andávamos por
aquele trajeto, com Tia Rolinha e alguns primos e/ou com Nonô de Paranaguá.
Outras
lembranças vinham à mente e serviam de motivo para os bate papos da caminhada.
Falávamos das histórias que eram contadas sobre o trecho da estrada, ladeado e
coberto de bambus. Passando por ali, parecia que passávamos sob um túnel. O
farfalhar das folhas dos bambus e o ambiente de sombras, entremeado de raios da
luz do sol, eram propícios para os “casos e assombração”, dentre outros. Esses
casos causavam medo a muita gente pequena e grande, também.
Os
bambus e demais vegetações nativas, não somente traziam as lembranças, mas
também nos presenteavam com uma beleza natural e contagiante daquela paisagem.
Inspiravam, também, os contadores de causos, título disputado acirradamente
pela maioria dos que ali caminhavam.
É
brincadeira?
A
certa altura da caminhada, havia uma bifurcação na estrada e as meninas que
seguiam uns 500 metros, à frente, foram surpreendidas com gritos:
-
Meninas!
Meninas!
-
Parem.
-
Devem
voltar.
-
Vamos
dobrar aqui.
Era
Nilson, que caminhava lado a lado com Nena, e pararam para conversar com um
cavaleiro que por ali passava, justamente na entrada que dobrava à direita.
Esse rapaz informou que Paranaguá estava a uns dois quilòmetros e meio, se
seguíssemos por ali. O caminho em frente causaria uma caminhada bem maior,
fazendo um arrodeio que aumentaria a distância a ser percorrida, umas três
vezes. As meninas, já mostrando sinal de cansaço, voltaram e, ao alcançarem a
entrada, dispararam:
-
Vocês
fizeram isso com a gente porque estavam ficando para trás.
-
Isso
não se faz.
Paranaguá
à vista! ... Chegamos.
Cansados
e com sede, todos vibraram quando avistaram Paranaguá. Maior vibração ocorreu
quando chegaram. Sentaram-se sob a sombra de um tamarineiro, em cadeiras
colocadas por um dono de bar, e começaram a saborear uma gostosa cerveja, bem
geladinha. A marca? Não importa. A cerveja estava bem gelada.
Ali,
também, desfilaram em nossas mentes muitas lembranças, muitos casos, muitas
saudades. Afinal, Cosme, Nilson e Nilzélia viveram ali nos primeiros anos de
aventuras, nessa boa vida que Deus lhes deu. Ali faleceu Nonô de Paranaguá, em
1957. Mesmo depois que se mudaram, em 1958, estiveram passeando por ali, algumas
vezes, ficando na casa de D. Dinalva e “Seo” Dedé. Os outros membros do grupo,
também, por muitas vezes, andaram por ali. Por isso, as recordações estavam tão
presentes, em todos.
Cadê
a usina?
A
Usina Paranaguá não existe mais. Transferiram os equipamentos e derrubaram toda
a estrutura física. Derrubaram até o bueiro. Sobraram alguns pedaços de paredes
como as de um galpão antigo, que serviam para armazenar os sacos de açúcar.
Venderam a área de terra onde se situava a Usina. Instalaram, também, na localidade,
o assentamento 3 de Abril, do Sem Terras. Aos que ali moravam, desde o tempo de
funcionamento da Usina, onde trabalhavam, foi permitido continuar morando
naquelas casas. Mas lhes foram tirados até os pedaços de terra, onde plantavam,
para a própria subsistência.
A distribuição de terras e demais
benefícios do programa do Sem Terras não deveriam começar a beneficiar aos que
ali conseguiam sobreviver?
A
Represa
Não
poderíamos ir a Paranaguá e deixar de ver a represa que fornecia água para o
funcionamento da Usina. Ao nos dirigirmos para a represa, passamos pela última
casa onde D. Bem e “Seo” Nonô moraram, em Paranaguá, e pela frente da casa onde
funcionava a Escola.
Na
última casa, antes da represa, o foi feito um alerta: - Não agrada aos donos a
visita de estranhos à represa. Seguimos em frente e, chegando lá, confirmamos a
informação: - nos deparamos com uma cerca eletrificada que, teoricamente,
impedia a entrada.
Apesar
da idade dos quatro visitantes do momento, - Cosme, Tonho, Nena e Nilson –
ninguém com menos de 64, nos enfiamos por baixo da cerca e atravessamos.
Ficamos naquela área, filmando, fotografando e contando casos e vantagens.
Haja
recordações!
Vimos
que a represa continua linda e fazendo com que tenhamos também ótimas
recordações. Em especial, duas delas:
1. Às cinco horas da manhã, Nonô de Paranaguá gostava de
tomar um banho na represa. Um desses dias, me levou (Cosme), filho homem mais
velho do casal, com uns sete anos de idade, para esse banho matinal. Lá chegando,
Nonô entrou na represa e, de lá, me chamou para entrar naquela água gostosa e
fria. Fui, sem perceber que, entre nós dois, sob a água, havia um buraco. Caí
nesse buraco, desaparecendo sob a água e Pai, imediatamente, me socorreu,
salvando-me de um possível afogamento. Foi só um susto.
2. Um certo dia, a represa encheu tanto que ameaçou
romper. Seria um desastre que atingiria a Usina e a todas as casas do povoado. Notou-se
então um grande alvoroço no lugar. Todos os homens foram convocados. Claro que
meninos não eram bem vindos mas não podiam perder o espetáculo e, de longe,
observavam tudo. Notaram que cavaram uma canaleta em cada extremidade da parede
natural de contenção; encheram muitos sacos de terra; arrumaram esses sacos estrategicamente
para ajudar a aumentar a resistência daquela parede de contenção; outras ações,
também, foram realizadas. – Lembrar de todas é querer demais, também, para um
fato ocorrido a mais de 60 anos. Ao final, as estratégias deram certo e, entre
mortos e feridos, todos se salvaram. A parede não se rompeu.
Usina
Paranaguá, a campeã estadual de produção
Como
foi visto, a visita à represa levou o grupo a fazer uma viagem de volta aos
velhos tempos, quando a Usina estava em pleno funcionamento e se destacava
sempre, mantendo-se entre as mais produtivas do Estado, muitas vezes, campeã da
produção. Esse fato se festejava com a marcha carnavalesca, composta por um
morador, “Seo” Edmundo Passos, cuja letra transcreveremos a seguir:
Alô Paranaguá!
Alô, alô,
alô Paranaguá, \ és da Bahia uma das primeiras, \ agora vamos todos
comemorar, \ Paranaguá é a Suíça brasileira.
Já deu oitenta,
olé, \ já deu noventa, olá \ E os 180 já estão aí para completar. \ Agora
vamos todos trabalhar. \ Que os duzentos estão bem perto de chegar.
*80, 90, 180 e 200 mil sacos de açúcar.
*Suiça Brasileira: referência ao Sr. Robert
Durand, dono da Usina Paranaguá, de nacionalidade suíça.
Antigos
moradores
Dos
antigos moradores, encontramos “Seo” Anísio e D. Eremita, casal que continua a
residir no povoado de Paranaguá. Encontramos, também, dentre os mais antigos,
D. Dadinha. Descobrimos algo muito interessante: - ela ajudou D. Bem a
amamentar Nilzélia, que estava ali no passeio. Ambas ao se encontrarem, ficaram
muito emocionadas e fomos testemunhas de um grande abraço. O “irmão de leite” não
estava presente.
A
Escola
Na
Escola João Francisco da Costa Pinto,
- nome do antigo proprietário da Usina - fiz somente os meus 3 primeiros anos
de estudo, porque, no ano seguinte, fui morar em Feira de Santana. A escola era
mantida pela Usina Paranaguá, com três Professoras: Mariá, Ubaldina e
Marenildes. Era oferecido o curso primário, completo, que se estendia por cinco
anos. Muitos fatos ocorridos nessa Escola, também, foram lembrados. Essa Escola
não existe mais.
Hoje,
existe a Escola Municipal Robert Durand,
que funciona em um prédio próprio, com duas turmas, multiseriadas, ambas, com
alunos da Educação Infantil e do 1º ao 4º ano, antiga 3ª série do Ensino
Fundamental. Do 5º. Ano ao nono, os alunos vão estudar em Rio Fundo. Daí, vão
para Terra Nova, fazer o segundo grau.
Tivemos
a grata satisfação de conhecer a Profa. Eliete, que hoje atua como Professora,
na Escola Robert Durand. Um fato interessante é que o número de alunos (23, nas
duas turmas) diminui a cada ano. Diz-se que é porque, hoje, a mulher de
Paranaguá não quer mais ter filhos. Ela liga as trompas.
Paranaguá
e o Brasil
*Nota-se que quase todos os maiores
problemas do Brasil estão também acontecendo em Paranaguá:
- a educação é mal assistida, o que obriga as
Professoras a inventar e a usar cada vez mais a sua criatividade, para cumprir
a sua missão;
- as crianças e os adolescentes são obrigados a irem
cada vez mais distante, em busca de uma escola, se quiserem continuar os
estudos;
- a saúde apresenta uma situação deplorável;
- adolescentes vivendo em situação de risco, vulneráveis
à prostituição;
- o homem do povo tendo os seus direitos usurpados para
beneficiar a alguns;
- além de muitos outros que conhecemos.
*Isso é Paranaguá.
*Isso é Brasil.
*O povo continua calado, acomodado.
Nena
sumiu
Bau,
que voltou a Terra Nova para buscar o carro, preparou uma lotação com os que
queriam voltar de carro e, quando estava quase saindo, alguém perguntou:
-
Cadê
Nena?
Saímos
a procurar. Fomos nos sanitários dos dois bares; perguntamos às pessoas, nas
ruas, se viram um rapaz simpático e sorridente passar por ali; o rapaz de um
dos bares perguntou se ele não tinha saído com uma das meninas do lugar, que
estavam por ali; dissemos que não, claro. Nena é um rapaz sério. Entre nós,
alguém perguntou: - será que foi sequestrado?
Firmes
nessa procura, dissemos: - não sairemos daqui, enquanto Nena não aparecer.
Vamos tomar, ou melhor, vamos beber mais uma, naquele outro bar, para ver se
ele aparece. Depois do terceiro litro, Nena não apareceu. Então resolvemos: -
Bau, você vai a Terra Nova com quem não quiser voltar a pé e, se encontrar
Nena, volte aqui para avisar. Bau e mais três do grupo entraram no carro e
foram para Terra Nova. Logo adiante, encontraram Nena. Retornaram a Paranaguá e
Nena seguiu em frente para Terra Nova.
Chegando
em Paranaguá, encontraram os três que ficaram em vigília. Estavam ansiosos. Bebiam
mais algumas para aliviar a tensão e diminuir a preocupação, enquanto esperavam
notícias de Nena. Então, Bau disse: - Sobe todo mundo aqui. Éramos sete.
Arrumamos três na frente e quatro, no banco de trás, e rumamos para encontrar
com Nena, no caminho de Terra Nova. Ao encontrá-lo, bem mais adiante, saltamos,
liberamos Bau para levar o povo para Terra Nova e seguimos a pé: Eu(Cosme),
Nilson, Tonho e Nena.
Curioso?
Quer saber o que aconteceu?
Nena
disse que, no bar, tinha dito a Tonho e a Nilson que ia adiantar. E eles,
envolvidos pelas atrações do lugar – música, cerveja, tiragosto, dentre outros.
- não ouviram. Tendo sido dada a explicação, seguimos em frente, contando
casos, alguns nem tão verdadeiros, dando muita risada. Mas a caminhada foi
gostosa.
Terra
Nova à vista
Chegando
em Terra Nova, fizemos uma parada no bar de Caípe. Mais algumas cervejas e umas
cachacinhas da região foram consumidas. O pessoal, que tinha chegado antes,
veio ao nosso encontro. Do mercado, vinha um som, indicando que um forró
acontecia ali. Mudamos para lá e aproveitamos, já misturados às demais pessoas
que ali se divertiam. Um certo tempo depois, nos separamos, cada um indo para
casa.
O
Beliscão
Ao
chegar em casa, Cosme e Tonho, encontraram outros membros do grupo estavam de
saída para O Beliscão. Claro! Voltaram\voltamos da porta da rua e seguimos para
O Beliscão. Foi também um bom momento. Brincamos, dançamos e nos divertimos,
até uma da manhã. E, ao chegar em casa, depois de um banho frio e
reconfortante, comemos um sarapatel e fomos deitar.
*Estão esperando mais o quê? Vão
dormir, também.
XXX ------------ XXX
*Os povoados Paranaguá e Terra Nova estavam situados
no distrito de Rio Fundo, Município Santo Amaro da Purificação, Estado da
Bahia, Brasil.
*Nesses povoados estavam instaladas e em pleno
funcionamento a Usina Paranaguá e a Usina Terra Nova, ambas de cana de açúcar.
*O povoado de Terra Nova foi elevado à condição de
cidade, em 1960.
*O Povoado de Paranaguá e o Distrito de Rio Fundo
passaram a pertencer ao Município de Terra Nova, Estado da Bahia - Brasil.