terça-feira, 4 de abril de 2017

Educação e Fraternidade: União entre os membros da Família


A Caminhada dos Primos das Famílias Pereira, Santos e Castor e Amigos
Irmãos, primos, sobrinhos e amigos, das famílias Pereira, Santos e Castor, nos dias 24 e 25 de março de 2017, estiveram reunidos para realizarem uma caminhada, ida e volta, num percurso entre os povoados de Terra Nova e Paranaguá, distantes um do outro, aproximadamente, uma légua ou 6 (seis) km. Portanto, um percurso de 12 Km.
Muitos amigos e parentes perguntaram o porquê dessa caminhada. Promessa? Questão religiosa? Questão política? Nada disso. O problema é que nós, parentes e amigos que já não moramos em Terra Nova, temos dificuldade de nos reunirmos e só vamos em Terra Nova para enterros e, às vezes, casamentos. Por isso, fizemos essa 1ª Caminhada.
O bom disso tudo é que muitos, dentre os parentes e amigos, que não puderam estar presentes nesta 1ª Caminhada, muitos já estão pedindo para realizarmos uma 2ª Caminhada. Aconselhamos a todos que comecem a fazer caminhadas diárias ou, pelo menos, três vezes por semana e aguardem. Em breve, seremos convocados para essa 2ª Caminhada.
*1º fruto dessa Caminhada: Foi criado um grupo no whats app, famoso zap, para mais fácil e mais constante comunicação entre os primos.
Concentração
Às 8 horas da manhã de um sábado ensolarado, na casa de D. Rolinha, no bairro Caraconha, em Terra Nova, aconteceu o início da concentração para a caminhada. Eram caminheiros os irmãos Tonho, Rita e Ana, da Família de D. Rolinha e “Seo” Antônio Pereira; os irmãos Cosme, Nilson e Nilzélia e a sobrinha Adriana, da Família de D. Bem e Frutuoso Castor, o Nonô de Paranaguá; Bau, da Família de D. Vivi e Carlos Santos, o Tio Santinho; e os amigos Nena e Pedro, de Terra Nova e Neta e Cica, de Salvador. Alguns já estavam ali. Outros chegaram das cidades de Feira de Santana e de Salvador, onde moram. Além desses primos, irmãos, sobrinha e amigos, Nilda, Verinha, Mercedes, Wilson, Tuca, Jaiminho e Djainha, dentre muitos outros, por motivos particulares, deixaram de participar da caminhada.
A arrancada
Depois do bate papo da chegada e de umas três cervejas consumidas no vizinho bar de Nelson, o grupo saiu para a Caminhada. Passaram ao lado do mercado, foram pela ponte, sobre o Rio Pojuca, que liga as duas partes da cidade.Dali, seguiram pela área onde, antigamente, ficavam as instalações da Usina Terra Nova.
Bobó vai ou não vai?
Nesse trecho, encontraram mais um primo, o Geraldo ou Bobó, da Família Pereira, que dirigia um carro de mão, cheio de carne de boi, uns 2 kg, mais ou menos. O grupo sugeriu que ele deixasse aquela carne num freezer do barzinho de um amigo, ali perto e acompanhasse o grupo na Caminhada, até Paranaguá. Ele quase aceitou mas lembrou-se de um compromisso que tinha com a esposa e desistiu.
Wilson se perdeu
Enquanto parados, decidíamos pela ida, ou não, de Bobó, passou um amigo, de moto, e avisou que Wilson, outro primo, estava perdido. Ele estava procurando o grupo, pelo centro da cidade. Pedimos que lhe avisasse sobre a nossa posição, no percurso.
Fomos embora
Continuando, seguimos em direção à saída da cidade. Logo adiante, em frente a um ginásio de esportes, dobramos à esquerda, entrando numa estrada sem calçamento, que passava pelo bambu. Era um caminho tradicional.
Bau nos alcançou
À altura do final do 2º, para o início do 3º Km de caminhada, fomos alcançados por Bau. Ele disse que correu de Terra Nova até ali. O grupo desconfia que ele foi de motoboy até bem perto, dispensou o rapaz e correu uns 20m (vinte metros, mesmo). Mas mostrou que estava em forma, correndo tanto, diferente de Wilson, que preferiu ficar aguardando a nossa volta.
A Paisagem
Duas palavras:
-       Bela paisagem!
Pelo caminho, enquanto andávamos, apreciávamos a bela paisagem que, animadamente, parecia andar conosco. Lembrávamos do tempo de criança, quando andávamos por aquele trajeto, com Tia Rolinha e alguns primos e/ou com Nonô de Paranaguá.
Outras lembranças vinham à mente e serviam de motivo para os bate papos da caminhada. Falávamos das histórias que eram contadas sobre o trecho da estrada, ladeado e coberto de bambus. Passando por ali, parecia que passávamos sob um túnel. O farfalhar das folhas dos bambus e o ambiente de sombras, entremeado de raios da luz do sol, eram propícios para os “casos e assombração”, dentre outros. Esses casos causavam medo a muita gente pequena e grande, também.
Os bambus e demais vegetações nativas, não somente traziam as lembranças, mas também nos presenteavam com uma beleza natural e contagiante daquela paisagem. Inspiravam, também, os contadores de causos, título disputado acirradamente pela maioria dos que ali caminhavam.
É brincadeira?
A certa altura da caminhada, havia uma bifurcação na estrada e as meninas que seguiam uns 500 metros, à frente, foram surpreendidas com gritos:
-       Meninas! Meninas!
-       Parem.
-       Devem voltar.
-       Vamos dobrar aqui.
Era Nilson, que caminhava lado a lado com Nena, e pararam para conversar com um cavaleiro que por ali passava, justamente na entrada que dobrava à direita. Esse rapaz informou que Paranaguá estava a uns dois quilòmetros e meio, se seguíssemos por ali. O caminho em frente causaria uma caminhada bem maior, fazendo um arrodeio que aumentaria a distância a ser percorrida, umas três vezes. As meninas, já mostrando sinal de cansaço, voltaram e, ao alcançarem a entrada, dispararam:
-       Vocês fizeram isso com a gente porque estavam ficando para trás.
-       Isso não se faz.
Paranaguá à vista! ... Chegamos.
Cansados e com sede, todos vibraram quando avistaram Paranaguá. Maior vibração ocorreu quando chegaram. Sentaram-se sob a sombra de um tamarineiro, em cadeiras colocadas por um dono de bar, e começaram a saborear uma gostosa cerveja, bem geladinha. A marca? Não importa. A cerveja estava bem gelada.
Ali, também, desfilaram em nossas mentes muitas lembranças, muitos casos, muitas saudades. Afinal, Cosme, Nilson e Nilzélia viveram ali nos primeiros anos de aventuras, nessa boa vida que Deus lhes deu. Ali faleceu Nonô de Paranaguá, em 1957. Mesmo depois que se mudaram, em 1958, estiveram passeando por ali, algumas vezes, ficando na casa de D. Dinalva e “Seo” Dedé. Os outros membros do grupo, também, por muitas vezes, andaram por ali. Por isso, as recordações estavam tão presentes, em todos.
Cadê a usina?
A Usina Paranaguá não existe mais. Transferiram os equipamentos e derrubaram toda a estrutura física. Derrubaram até o bueiro. Sobraram alguns pedaços de paredes como as de um galpão antigo, que serviam para armazenar os sacos de açúcar. Venderam a área de terra onde se situava a Usina. Instalaram, também, na localidade, o assentamento 3 de Abril, do Sem Terras. Aos que ali moravam, desde o tempo de funcionamento da Usina, onde trabalhavam, foi permitido continuar morando naquelas casas. Mas lhes foram tirados até os pedaços de terra, onde plantavam, para a própria subsistência.
A distribuição de terras e demais benefícios do programa do Sem Terras não deveriam começar a beneficiar aos que ali conseguiam sobreviver?
A Represa
Não poderíamos ir a Paranaguá e deixar de ver a represa que fornecia água para o funcionamento da Usina. Ao nos dirigirmos para a represa, passamos pela última casa onde D. Bem e “Seo” Nonô moraram, em Paranaguá, e pela frente da casa onde funcionava a Escola.
Na última casa, antes da represa, o foi feito um alerta: - Não agrada aos donos a visita de estranhos à represa. Seguimos em frente e, chegando lá, confirmamos a informação: - nos deparamos com uma cerca eletrificada que, teoricamente, impedia a entrada.
Apesar da idade dos quatro visitantes do momento, - Cosme, Tonho, Nena e Nilson – ninguém com menos de 64, nos enfiamos por baixo da cerca e atravessamos. Ficamos naquela área, filmando, fotografando e contando casos e vantagens.
Haja recordações!
Vimos que a represa continua linda e fazendo com que tenhamos também ótimas recordações. Em especial, duas delas:
1.  Às cinco horas da manhã, Nonô de Paranaguá gostava de tomar um banho na represa. Um desses dias, me levou (Cosme), filho homem mais velho do casal, com uns sete anos de idade, para esse banho matinal. Lá chegando, Nonô entrou na represa e, de lá, me chamou para entrar naquela água gostosa e fria. Fui, sem perceber que, entre nós dois, sob a água, havia um buraco. Caí nesse buraco, desaparecendo sob a água e Pai, imediatamente, me socorreu, salvando-me de um possível afogamento. Foi só um susto.
2.  Um certo dia, a represa encheu tanto que ameaçou romper. Seria um desastre que atingiria a Usina e a todas as casas do povoado. Notou-se então um grande alvoroço no lugar. Todos os homens foram convocados. Claro que meninos não eram bem vindos mas não podiam perder o espetáculo e, de longe, observavam tudo. Notaram que cavaram uma canaleta em cada extremidade da parede natural de contenção; encheram muitos sacos de terra; arrumaram esses sacos estrategicamente para ajudar a aumentar a resistência daquela parede de contenção; outras ações, também, foram realizadas. – Lembrar de todas é querer demais, também, para um fato ocorrido a mais de 60 anos. Ao final, as estratégias deram certo e, entre mortos e feridos, todos se salvaram. A parede não se rompeu.
Usina Paranaguá, a campeã estadual de produção
Como foi visto, a visita à represa levou o grupo a fazer uma viagem de volta aos velhos tempos, quando a Usina estava em pleno funcionamento e se destacava sempre, mantendo-se entre as mais produtivas do Estado, muitas vezes, campeã da produção. Esse fato se festejava com a marcha carnavalesca, composta por um morador, “Seo” Edmundo Passos, cuja letra transcreveremos a seguir:
Alô Paranaguá!
Alô, alô, alô Paranaguá, \ és da Bahia uma das primeiras, \ agora vamos todos comemorar, \ Paranaguá é a Suíça brasileira.      
Já deu oitenta, olé, \ já deu noventa, olá \ E os 180 já estão aí para completar. \ Agora vamos todos trabalhar. \ Que os duzentos estão bem perto de chegar.
*80, 90, 180 e 200 mil sacos de açúcar.
*Suiça Brasileira: referência ao Sr. Robert Durand, dono da Usina Paranaguá, de nacionalidade suíça.
Antigos moradores
Dos antigos moradores, encontramos “Seo” Anísio e D. Eremita, casal que continua a residir no povoado de Paranaguá. Encontramos, também, dentre os mais antigos, D. Dadinha. Descobrimos algo muito interessante: - ela ajudou D. Bem a amamentar Nilzélia, que estava ali no passeio. Ambas ao se encontrarem, ficaram muito emocionadas e fomos testemunhas de um grande abraço. O “irmão de leite” não estava presente.
A Escola
Na Escola João Francisco da Costa Pinto, - nome do antigo proprietário da Usina - fiz somente os meus 3 primeiros anos de estudo, porque, no ano seguinte, fui morar em Feira de Santana. A escola era mantida pela Usina Paranaguá, com três Professoras: Mariá, Ubaldina e Marenildes. Era oferecido o curso primário, completo, que se estendia por cinco anos. Muitos fatos ocorridos nessa Escola, também, foram lembrados. Essa Escola não existe mais.
Hoje, existe a Escola Municipal Robert Durand, que funciona em um prédio próprio, com duas turmas, multiseriadas, ambas, com alunos da Educação Infantil e do 1º ao 4º ano, antiga 3ª série do Ensino Fundamental. Do 5º. Ano ao nono, os alunos vão estudar em Rio Fundo. Daí, vão para Terra Nova, fazer o segundo grau.
Tivemos a grata satisfação de conhecer a Profa. Eliete, que hoje atua como Professora, na Escola Robert Durand. Um fato interessante é que o número de alunos (23, nas duas turmas) diminui a cada ano. Diz-se que é porque, hoje, a mulher de Paranaguá não quer mais ter filhos. Ela liga as trompas.
Paranaguá e o Brasil
*Nota-se que quase todos os maiores problemas do Brasil estão também acontecendo em Paranaguá:
-     a educação é mal assistida, o que obriga as Professoras a inventar e a usar cada vez mais a sua criatividade, para cumprir a sua missão;
-     as crianças e os adolescentes são obrigados a irem cada vez mais distante, em busca de uma escola, se quiserem continuar os estudos;
-     a saúde apresenta uma situação deplorável;
-     adolescentes vivendo em situação de risco, vulneráveis à prostituição;
-     o homem do povo tendo os seus direitos usurpados para beneficiar a alguns;
-     além de muitos outros que conhecemos.
*Isso é Paranaguá.
*Isso é Brasil.
*O povo continua calado, acomodado.
Nena sumiu
Bau, que voltou a Terra Nova para buscar o carro, preparou uma lotação com os que queriam voltar de carro e, quando estava quase saindo, alguém perguntou:
-       Cadê Nena?
Saímos a procurar. Fomos nos sanitários dos dois bares; perguntamos às pessoas, nas ruas, se viram um rapaz simpático e sorridente passar por ali; o rapaz de um dos bares perguntou se ele não tinha saído com uma das meninas do lugar, que estavam por ali; dissemos que não, claro. Nena é um rapaz sério. Entre nós, alguém perguntou: - será que foi sequestrado?
Firmes nessa procura, dissemos: - não sairemos daqui, enquanto Nena não aparecer. Vamos tomar, ou melhor, vamos beber mais uma, naquele outro bar, para ver se ele aparece. Depois do terceiro litro, Nena não apareceu. Então resolvemos: - Bau, você vai a Terra Nova com quem não quiser voltar a pé e, se encontrar Nena, volte aqui para avisar. Bau e mais três do grupo entraram no carro e foram para Terra Nova. Logo adiante, encontraram Nena. Retornaram a Paranaguá e Nena seguiu em frente para Terra Nova.
Chegando em Paranaguá, encontraram os três que ficaram em vigília. Estavam ansiosos. Bebiam mais algumas para aliviar a tensão e diminuir a preocupação, enquanto esperavam notícias de Nena. Então, Bau disse: - Sobe todo mundo aqui. Éramos sete. Arrumamos três na frente e quatro, no banco de trás, e rumamos para encontrar com Nena, no caminho de Terra Nova. Ao encontrá-lo, bem mais adiante, saltamos, liberamos Bau para levar o povo para Terra Nova e seguimos a pé: Eu(Cosme), Nilson, Tonho e Nena.
Curioso?
Quer saber o que aconteceu?
Nena disse que, no bar, tinha dito a Tonho e a Nilson que ia adiantar. E eles, envolvidos pelas atrações do lugar – música, cerveja, tiragosto, dentre outros. - não ouviram. Tendo sido dada a explicação, seguimos em frente, contando casos, alguns nem tão verdadeiros, dando muita risada. Mas a caminhada foi gostosa.
Terra Nova à vista
Chegando em Terra Nova, fizemos uma parada no bar de Caípe. Mais algumas cervejas e umas cachacinhas da região foram consumidas. O pessoal, que tinha chegado antes, veio ao nosso encontro. Do mercado, vinha um som, indicando que um forró acontecia ali. Mudamos para lá e aproveitamos, já misturados às demais pessoas que ali se divertiam. Um certo tempo depois, nos separamos, cada um indo para casa.
O Beliscão
Ao chegar em casa, Cosme e Tonho, encontraram outros membros do grupo estavam de saída para O Beliscão. Claro! Voltaram\voltamos da porta da rua e seguimos para O Beliscão. Foi também um bom momento. Brincamos, dançamos e nos divertimos, até uma da manhã. E, ao chegar em casa, depois de um banho frio e reconfortante, comemos um sarapatel e fomos deitar.
*Estão esperando mais o quê? Vão dormir, também.
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*Os povoados Paranaguá e Terra Nova estavam situados no distrito de Rio Fundo, Município Santo Amaro da Purificação, Estado da Bahia, Brasil.
*Nesses povoados estavam instaladas e em pleno funcionamento a Usina Paranaguá e a Usina Terra Nova, ambas de cana de açúcar.
*O povoado de Terra Nova foi elevado à condição de cidade, em 1960.
*O Povoado de Paranaguá e o Distrito de Rio Fundo passaram a pertencer ao Município de Terra Nova, Estado da Bahia - Brasil.