Vida
pós (re)encontro com Jesus Cristo
Cosme
Castor
A
tragédia não é quando o ser humano morre;
a
tragédia é aquilo que morre dentro da pessoa
enquanto
ela ainda está viva. (Albert Shweiter)
Vivemos
o período quaresmal e tivemos a oportunidade de fazer uma revisão de vida,
individualmente ou em grupo, buscando refletir sobre o sentido da nossa vida.
Tudo isso, à luz do Evangelho.
Em
alguns casos, tivemos a oportunidade de refletir em grupo. Após esse período,
seguimos para as celebrações da Semana Santa.
Domingo
de Ramos diferente: Todos em casa, acompanhando as celebrações pelas
transmissões, através dos meios de comunicação ao alcance de cada um.
Essa
situação foi provocada pela invasão do “coronavírus”, que invadiu os países por
todo o mundo, atingindo mortalmente milhares de pessoas.
Mesmo
assim, os ramos de nossas árvores, colocados nas portas, nas janelas ou nos portões
de casa, nos ajudaram a entrar no clima comunitário da caminhada dos ramos.
Tudo
isso, para lembrar a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém, sob os aplausos
do povo que O seguia. Ao mesmo tempo, essa gente respondia aos curiosos que
Aquele era Jesus de Nazaré, da Galiléia.
Foi um
Domingo de Ramos diferente, sim. No entanto, com muita participação dos fiéis
que, mesmo distantes uns dos outros, se mostraram bem mais unidos, em oração, juntos
ao Cristo e, notadamente, na companhia da Sua Mãe e nossa Mãe Maria.
Hoje,
a nossa fé nos leva a continuar aclamando o Cristo que, diariamente, vem a nós,
em nome do Pai. Assim, passamos a fazer parte de uma comunidade que busca
seguir sua caminhada na fé, em direção ao Pai.
A
segunda, a terça e a quarta feira, três dias de reflexão, rezando, na certeza
de contar com Jesus, durante toda a nossa caminhada diária, que nos leva a enfrentar
e a vencer as nossas dificuldades e os nossos problemas.
Nestes
três dias, nos preparamos também para a celebração do Tríduo Pascal, voltando as
nossas atenções para pedir por todos nós, pelos mais necessitados e pela
vitória contra o “vírus corona”, que aflige o mundo inteiro.
É o
momento de pedir ao Cristo para nos ajudar a manter viva a nossa fé.
O
Tríduo Pascal
O
Evangelho da Quinta Feira da Semana Santa 2020, Jo13,1–15, relata para nós o
momento em que Jesus está numa ceia, com seus discípulos.
Ele interrompe
a ceia, levanta-se e lava os pés dos seus discípulos. Depois, retorna para a
mesa, para continuar a ceia.
Então,
Jesus fala da Sua própria Páscoa, que consiste na Sua ida deste mundo para o mundo
do Pai, passando pela morte e ressurreição.
Ele
abre o Caminho para o Pai, mostrando este Caminho para quem quiser segui-Lo:
-
Deixar morrer em si o egoísmo;
- Amar,
por toda a vida, até a morte;
- Doar
a vida pelo irmão;
-
Viver a vida, a cada dia, sempre com o outro ser e para o outro ser.
Para
nos falar deste Caminho, Jesus resolve lavar os pés dos discípulos, indo contra
a Lei dos judeus que determinava ser essa uma obrigação, exclusivamente, dos
escravos, mesmo assim, se o escravo não fosse judeu, conforme a Bíblia, em Lv25,39.
Pela
lei, quem era livre e/ou escravo judeu não lavava os pés do outro.
Em
alguns casos, mesmo tratando-se de judeus, os discípulos lavavam os pés do Mestre,
apenas, quando buscavam reverenciá-lo. No entanto, o Mestre nunca lavava os pés
dos discípulos, porque se julgava superior.
Em
todos os seus atos na comunidade, Jesus combateu a fome, a doença, a violência,
a exclusão, enfim, aquilo tudo que atentava contra a vida.
Ele
esteve sempre em defesa da vida. Tudo isso para mostrar que ninguém é superior ao
outro. Todos são iguais e têm os mesmos direitos e deveres para com o outro.
Ele
mostra que a Lei foi feita para beneficiar o homem e não para se constituir num
empecilho para servir a um irmão (Mc2,27).
Jesus lhes
diz que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo10,10). Ele
quer que, assim como Ele fez, (Jo10,11.17-18) devemos, também, fazer: doar a
vida pelo irmão.
Como
exemplo, Ele cita a semente do grão de trigo, que morre, para que possa
produzir frutos. (Jo12,24).
A
morte de Cristo na cruz só teve sentido porque a vida de Cristo teve sentido. Por
toda a vida, doou-se a todos. Na morte, doou-se por todos.
Acostumados
a obedecer cegamente à Lei dos judeus, os discípulos não entenderam esse gesto
de Jesus e Pedro reagiu, sem querer que Jesus lavasse os seus pés. Afinal,
Jesus era o seu Mestre.
Pela Lei
dos judeus, Pedro é que poderia lavar os pés de Jesus. Era seu discípulo. Mas
Jesus lhe disse que se não deixasse lavar os seus pés, não teria parte com Ele.
Esse
ato feito pelo escravo, limpava apenas a poeira dos pés. Era um ato exterior. Assim,
eles viam no “lavar os pés”, apenas, um ato indigno e humilhante, que a Lei dos
judeus só permitia ser realizado por escravos, que não fossem judeus.
Mas
Jesus lhes disse que, somente depois, eles iriam entender esse gesto. Disse,
ainda, que Ele fazia isso para que cada um o fizesse, também, uns aos outros.
Jesus
faz diferente: Ele lavou os pés dos discípulos. Visava a uma limpeza interior.
Por essa razão é que nos batizamos: para sermos lavados espiritualmente e sermos
renovados no amor de Cristo.
No
Batismo, recebemos o Espírito Santo, quando nos confirmamos como integrantes do
Povo de Deus, comprometidos com a assimilação e prática das lições de Cristo.
Morte e Ressurreição de Cristo
Reunidos
no templo, os sacerdotes e os anciãos, como também, outros líderes governantes
da comunidade, discutiam sobre o perigo que Jesus representava para eles.
Jesus
estava incentivando o povo a refletir sobre a forma de vida que levavam,
oprimidos pelo medo, pelo ódio e pelo sentimento de vingança, (“olho por olho,
dente por dente” - Mt5,38-42, Ex21,23-24; Lv24,20; Dt19,21) que lhes faziam viver olhando para dentro
de si e alimentando a ira contra o irmão.
No
entanto, Jesus lhes ensinava diferente, o contrário de tudo que haviam
aprendido até ali. A novidade é que Jesus ensinava a amar o irmão e amar até
aos inimigos (Mt5,44).
Ele ensinava
a fazer tudo o que fosse possível, para o irmão viver bem e em paz, fazendo o
bem a todos. Fazia até verdadeiros milagres para beneficiar, principalmente,
aos mais necessitados.
Isso
incomodava muito aos sacerdotes e aos governantes. Colocava em risco a
autoridade deles e a cega obediência do povo. Por isso, resolveram matar Jesus.
E o
povo, como reagiria?
Ao
povo, diriam que Jesus estava despertando a ira de Roma e, se Jesus não fosse
contido, Roma iria massacrar todo o povo judeu.
Então,
Caifás, o Sumo Sacerdote, disse que era melhor morrer um só homem pelo povo para
não perecer toda a nação. (Jo11,50). Com essa justificativa, junto aos
governantes judeus, determinou que Ele devia morrer (Jo11,51).
Para humilhar
Jesus e amedrontar os discípulos e demais seguidores de Jesus, eles escolheram
a morte na cruz. Conseguiram enganar o povo e o fizeram de tal maneira que levavam
o povo pensar que ele, povo, estava decidindo.
Por
isso, quando Pilatos perguntou se queriam que soltasse Jesus ou Barrabás, os
sacerdotes e governantes judeus levaram o povo a escolher a opção de soltar
Barrabás e mandar Jesus para a morte, na cruz (Jo18,39-40).
Jesus
aceitou tudo isso, não por passividade, mas com muita coragem e muita coerência
com tudo o que Ele sempre pregou e com o compromisso que Ele tinha com o Pai.
Ele
demonstrou essa coerência, também, em todos os atos que desenvolveu durante
toda a sua vida, sempre dedicada ao bem estar do povo, lutando contra a
violência, contra a fome e contra todo mal que afligia o povo e o subjugava.
Tudo
poderia ficar bem para os sacerdotes e para os governantes judeus. Mas Jesus
cumpriu sua promessa, ressuscitando no terceiro dia: o Domingo.
Nesse
dia, logo cedo, ainda pela madrugada, Madalena foi ao túmulo de Jesus, enfrentando
o escuro da madrugada, em busca de uma nova aurora em sua vida.
É a
chegada da luz, trazendo a nova vida que Jesus nos oferece: “Eu vim para que
todos tenham vida e vida em abundância” (Jo10,10).
Os
discípulos e as pessoas do povo acolheram Jesus e acreditaram Nele. A morte,
seguida da ressurreição de Jesus, deu coragem aos discípulos, trazendo-lhes
também muita esperança e muita fé.
Segundo
Frei Monteiro, dirigindo-se aos jovens do TLC – Treinamento de Liderança Cristã,
de Feira de Santana, Bahia/Brasil, “a Ressureição é o marco da glorificação de
Cristo, a largada do cristão, rumo à missão e à vida”.
Enfim, a ressurreição de Jesus trouxe a
libertação para o Povo de Deus.
O que
o Cristo nos ensina
Quebrando todas as barreiras e as convenções da forma de viver, conforme
a Lei que prendia todos ao passado, Jesus nos traz uma grande novidade:
“Devemos amar os nossos irmãos e,
até, aos nossos inimigos”.
O Cristo
nos ensina que ninguém é maior nem menor do que o outro; ninguém tem mais
direitos que o outro; ninguém é dono do outro.
Ensina,
principalmente, que todo e qualquer ato nosso só é válido se for para o nosso
bem e para o bem dos nossos irmãos, como também, só é válido, se contribuir
para o bem de toda a comunidade.
Por
isso, devemos morrer para o orgulho, para a ira, para o ódio e para as
injustiças. Esse é um meio de purificar o coração.
Devemos
estar atentos e vigilantes para o nosso comportamento, para o nosso testemunho,
em todas as horas, em todos os dias, em todos os nossos atos.
Lembro
aqui de uma conversa com um amigo, no Sábado Santo 2020, por telefone celular, que
me disse:
“Nós
costumamos passar a Deus a nossa responsabilidade. No lugar de assumir e
realizar aquilo que podemos fazer, nós dizemos: - Deus lhe pague; - Deus lhe
ajude; - Deus vai resolver.
Com
a graça de Deus, a própria pessoa não pode pagar, não pode ajudar e não pode até
resolver, com o outro e/ou para o outro?”
Aprendamos,
então, a dirigir as nossas orações para pedir a Deus pelas nossas vidas e pelas
vidas dos nossos irmãos do Brasil e de todo o Mundo, especialmente, diante
dessa pandemia do “coronavírus”.
Vamos
pedir, também, que Ele nos livre dos maus governantes que comandam o Brasil e
outros países do mundo, colocando em risco a vida de muitos milhares de irmãos,
visando exclusivamente à defesa de interesses particulares.
Façamos
um pedido especial a Deus, para que o nosso povo, após essa pandemia, coloque
em prática, no dia a dia, os ensinamentos que aprendemos, com o Cristo, nas
celebrações desta Semana Santa.
Enfim,
Ele quer mesmo é que cada um se coloque a serviço do outro; que se coloque à
disposição do outro; que procure ajudar o outro, sem nenhum interesse. Apenas,
pelo prazer de servir.
Aproveite
a oportunidade que o Cristo lhe oferece, hoje. Deixe o passado para trás. Perdoe
a si mesmo. Perdoe ao irmão que tiver lhe ofendido.
Liberte-se!
Nessa nova Vida procure avançar, cada vez mais, na sua capacidade de amar
como Jesus nos amou.
Que
tudo isso comece, hoje, por quem está ao seu lado, e se estenda a todos os
irmãos, todos os dias.
Observação:
Sabemos que essa é a
grande lição que o Cristo nos ensinou.
E agora?
- Um abraço amigo do
irmão em Cristo, Cosme Castor -