O "zap" continua a nos brindar com ideias interessantes.
Nesta, nos faz refletir sobre o perigo e o prejuízo que pode causar
uma eleição de um cara tão bandido e despreparado,
para dirigir um País:
" Cosme
Castor
Dom, 29/08/2021 18:40
*FOLHA DE SÃO PAULO*
*O PODER DA BURRICE*
O desmonte da educação explica em
parte o fundo do poço que atingimos
Em 23.ago.2021 às 18h07
Quando isso tudo passar, os
sobreviventes desse período sombrio da história terão muito trabalho para
reconstruir o que foi destruído. Serão necessários anos de estudo para
entendermos de onde veio esse ímpeto suicida que fez um país com a importância
do Brasil eleger uma pessoa tão despreparada para governar como Jair Messias
Bolsonaro.
Ouvi do mestre Juca Kfouri uma vez
que nosso grande inimigo é a burrice. Faz sentido, mas não é só isso. Os que
manipulam a burrice são mais perigosos do que os burros.
Bem antes do surgimento da internet,
Nelson Rodrigues já dizia que os imbecis iriam tomar conta do mundo, não pela
capacidade, mas pela quantidade, pois são muitos. As redes sociais permitiram
que essa grande quantidade de ineptos espalhada pelo mundo pudesse se aglutinar
e ser manipulada em massa, concretizando assim a profecia do dramaturgo carioca
em uma escala inimaginável.
A estupidez nunca foi um grande
problema para a humanidade, ninguém dava muita bola para essas pessoas, e o
estrago que causavam era apenas local. Essa burrice, outrora quase folclórica,
hoje ameaça governos pelo mundo, provoca o caos e põe em risco a democracia.
Pessoas que não entendem nada de
infectologia dão aulas na internet explicando como acabar com a pandemia da
Covid-19, um "tiozão do zap" que mal sabe ligar o celular ou
pronunciar a palavra "firewall" tem certeza absoluta de que as urnas
eletrônicas podem ser fraudadas, um leigo em astronomia garante no YouTube que
a Terra é plana e isso sem falar nos burros com diploma, que podem garantir a
eficácia da cloroquina ou do ozônio via anal.
Mas como discutir com um burro, ou
até tentar explicar que ele é burro? Impossível, pois exatamente por ser burro
lhe faltam os elementos cognitivos que poderiam permitir que entendesse isso.
Argumentar com essas pessoas remete
ao complexo do pombo enxadrista, aquele que, quando confrontado pelo
adversário, derruba as peças, caga no tabuleiro e sai voando para dizer que
ganhou. Um tipo de comportamento que atinge em cheio seu principal objetivo.
Inviabiliza o diálogo, o que é excelente para quem não é capaz de produzir
argumentos.
Se chegamos a esse buraco, o acaso
pouco teve a ver com isso. Durante a ditadura militar, um projeto educacional
sério foi destruído por pessoas que desprezam o conhecimento, o pensamento
crítico e as artes em geral. Professores foram presos, torturados e perseguidos
com o claro objetivo de levar para as salas de aula apenas o pensamento militar
de obedecer sem questionar. Disciplinas que provocam a reflexão foram banidas,
e outras, que estimulam a obediência, como educação moral e cívica, criadas.
Sofremos os impactos dessa política até hoje e isso explica em parte o fundo do
poço que atingimos.
Recentemente, em pleno 2021, o
ministro da Educação disse que a universidade deve ser para poucos, sugerindo
que os mais pobres façam cursos técnicos. Disse também que crianças com
deficiência atrapalham em sala de aula. Parece haver um método nisso. Ele deve
estar preparando o terreno para que outro energúmeno seja eleito presidente
daqui a 20 anos.
*João Waine* - Cineasta e fotógrafo,
venceu o prêmio Esso de 2013 pela cobertura dos protestos de rua no país e é
autor dos documentários "Junho" e "PIXO". "