quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Educação e Política: Brasil versus Zaqueu


Brasil versus Zaqueu

Cosme Castor

No último dia 19 de novembro de 2019,
na Liturgia da Igreja Católica, se refletiu sobre o
Evangelho, segundo Lucas 19,1–10.
Nele, identifiquei a situação do povo brasileiro retratada e resolvi dizer assim:
Conforme o texto ”Firmes e perseverantes”, da revista Família Cristã, Jesus observava as pedras de reconstrução do Templo, junto a outras pessoas, quando disse: “Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
Ainda no texto: “Jesus se referia à destruição do templo e da cidade, pelos romanos, o que aconteceu no ano 70, da nossa era“.
E continua: “Jesus fala, então, (...) de um momento difícil pelo qual passarão os cristãos. (...) Será parecido com o fim do mundo, mas ainda não será o fim. Cataclismas na natureza e perseguições. As perseguições serão de muitos tipos. Será o momento de testemunhar a fé e permanecer firmes. Assim, ganharão a vida”
E sobre essa situação, o profeta Malaquias “vê o desaparecimento dos soberbos e dos ímpios e o nascimento do sol da justiça para os que temem o nome do Senhor”, conforme Ml 3,19-20.
Nessa época em que Jesus vivia entre nós, o Império Romano é que ditava as leis e todos os povos lhe eram submissos. A submissão era tão rigorosa que pessoas e coisas, tudo pertencia ao Império.
Qualquer ação, qualquer projeto a ser desenvolvido em cada localidade, precisava da autorização do governo romano.
As pessoas viviam como escravos. Eram vigiadas em suas atividades cotidianas e qualquer infração cometida podia custar-lhe a prisão sumária ou a própria vida, decretada por qualquer autoridade do governo romano. O pior é que, mesmo os que não tinham qualquer benefício, viviam a vigiar e denunciar os seus semelhantes, buscando ganhar alguma recompensa, pelo seu ato de traição.
A situação era tão séria que Roma não colocava em risco a vida de seus cidadãos. Dentre os dominados, Roma escolhia pessoas egoístas e ambiciosas, que tudo faziam por dinheiro e pelo poder, até mesmo ir contra seus irmãos, seus familiares, seus conterrâneos.
A essa gente eram dados os cargos e todo poder para cumprir a função que lhe era confiada. Esses eram bem recompensados e o abuso de poder, bem como, a desonestidade e a corrupção não constituíam crimes, desde quando, não fossem contra o Império. Essas atitudes nem mesmo eram consideradas pelo Império Romano. Interessava ao Império o recolhimento dos extorsivos impostos. O povo era, simplesmente, obrigado a pagar.
Um exemplo muito conhecido e citado na Bíblia, que deixa bem claro essa situação, é a história de Zaqueu (Lc 19,1-10). A ele foi dada a responsabilidade de coletar os impostos, em Jericó. Ele cumpria a sua função com crueldade, maltratando seus conterrâneos, sendo fiel ao Império Romano, a qualquer custo.
Por tudo isso, ele e todos aqueles que eram nomeados por Roma eram vistos como traidores, pelos seus conterrâneos. Maltratavam seus irmãos, para satisfazer aos rigores do Império Romano, por interesses apenas do dinheiro e do poder. Assim, agradavam a Roma e gozavam de suas benesses.
E Zaqueu era invejado por aqueles que cobiçavam o cargo que ele ocupava. Esses, voluntariamente, falavam bem do Império e denunciavam qualquer pessoa, - conterrâneos, amigos, parentes, conhecidos, desconhecidos e outros – que ousasse falar contra ou cometer qualquer ação que desagradasse ao Império. Tudo isso, visando a agradar seus opressores, para buscar uma recompensa pessoal.
No texto bíblico, Zaqueu ouviu falar de Jesus e ficou curioso. Ele quis conhecer Jesus. Era um homem de quem se falava maravilhas. Ele soube que Jesus passaria por um determinado caminho, em Jericó, em direção a Jerusalém. Como ele era um homem de baixa estatura e a multidão era grande, subiu a um sicômoro para ver Jesus.
A expectativa era grande. Jesus ia passar ali, bem em baixo da árvore. Ele, ali em cima, ia conseguir alcançar seu objetivo. Ele ainda não acreditava que ia conseguir seu objetivo.
Ele, um pecador!...
Ele, um traidor do povo!...
Ele, um capanga do opressor!...
Envolto em seus pensamentos, avistou a multidão que vinha em sua direção, acompanhando Jesus.
Para surpresa de Zaqueu e de todos os presentes, ao se aproximar da árvore onde ele se encontrava, Jesus parou, chamou Zaqueu pelo nome e o convidou a descer, pois Ele, Jesus, iria visitá-lo em sua casa. Todos ficaram muito intrigados com aquela atitude porque Jesus era judeu e Zaqueu era publicano. Pertenciam a dois grupos sociais diferentes e pouco amistosos. Daí, a surpresa do povo.
Tocado pela atitude de aceitação de Jesus e diante de todos, Zaqueu, um corrupto, arrependeu-se de seus atos desonestos, reconheceu sua culpa e prometeu restituir a quem tivesse prejudicado.
Voltando ao sistema de governo do Império Romano, que submetia o povo a um regime de escravidão, comparamos com a situação política, social e religiosa do Brasil. Então, vamos encontrar o “Império Romano”, atual, com apoio do mundo empresarial do capitalismo, a oprimir e a escravizar o povo brasileiro e os demais povos que a ele se submetem, voluntariamente e/ou pela força.
Mesmo não querendo acreditar, infelizmente, entre os oprimidos e escravizados, está o Brasil. Um país que bate continência para a bandeira do opressor e vê todas as suas instituições, principalmente as mais produtivas, serem desarticuladas e divididas em pedaços, para facilitar a entrega aos seus opressores.
A situação do Brasil está retratada no texto bíblico que aborda a questão de Zaqueu. O povo brasileiro é como o povo de Jericó:
- sofre o domínio do “Império Romano” atual;
- vê pessoas e instituições do seu país, servindo ao opressor e aos seus comparsas;
- vê as riquezas do seu País entregues ao domínio estrangeiro;
- vê seus compatriotas serem seus próprios carrascos;
- vê, enfim, sua identidade de povo livre ser transformada em identidade de um povo escravizado pelo opressor e pela própria ignorância.
Assim nos mostra e ensina a Bíblia, nesse caso de Zaqueu e em muitos outros.
Em relação às palavras bíblicas do início deste texto, conclui-se que:
- no Brasil, pode não ficar pedra sobre pedra e tudo será destruído, se o povo brasileiro continuar dizendo amém e aceitando tudo que está acontecendo, sem qualquer atitude que demonstre a sua insatisfação;
- o Brasil e os cristãos brasileiros estão passando por um momento muito difícil. E nesse momento está o fim de tudo. No entanto, ainda não é o fim, apesar dos cataclismas na natureza e das perseguições de muitos tipos. É, então, o momento de “testemunhar a fé e permanecer firmes”. Assim, nós, cristãos brasileiros, ganharemos a vida.
Logo, o cristão brasileiro verá o desaparecimento dos soberbos e dos ímpios e o nascimento do sol da justiça para os que temem o nome do Senhor. (Cf.Ml 3, 19-20)
E os governantes corruptos e desonestos do nosso Brasil, - os religiosos, os do judiciário, os do executivo, os do legislativo - todos vão se arrepender, como Zaqueu e devolver ao povo o que é do povo, ou vão continuar agindo como seus pares de Jericó, capangas do atual “Império Romano”?
Até quando?

Referências:
Revista Família Cristã. Pia Sociedade Filhas de São Paulo. Ano 85. Nº 1006. Outubro de 2019. P. 48. Paulinas. Sâo Paulo (SP) Brasil.
Bíblia Sagrada Ave Maria – Edição de Estudos. 5ª edição. 2015. Edição Claretiana. Editora Ave Maria. São Paulo.

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