Acabou a greve dos Professores do Estado da Bahia: notícia auspiciosa?
O Governo ganhou.
O governador ganhou.
Os deputados ganharam.
Indignação! Esta é a palavra.
O povo, sem entender bem o que está acontecendo, diz que o governador ganhou e o Professor perdeu.
O povo não entendeu que esta foi mais uma oportunidade que não soube aproveitar para exigir do Governo do Estado que leve a sério a Educação na Bahia.
O povo assistiu, passivamente, a “greve dos Professores”, como se fosse algo que acontecia na novela da tarde. (Não foi nem na das oito) Algo muito distante, incapaz de lhe preocupar.
Algumas reclamações, mas nada mais que isso. E a Educação continua a mesma.
Indignação! Esta é a palavra.
O povo não entendeu que esta foi a grande oportunidade de fazer a Bahia parar para consertar a Educação.
Onde estão os líderes comunitários?
Por onde andam os caras-pintadas?
Onde estão os que arrebanham milhares de pessoas para reclamar das discriminações, para participar de protestos, para fechar estradas, para reclamar de salários?
Onde se esconderam os que mobilizam os trabalhadores da educação, da indústria, do comércio, da saúde, da segurança, dos transportes, do serviço público, da área rural e de tantos outros movimentos?
Ficaram com medo que o governador pedisse o exército nacional à Presidenta?
- Se fosse homem, seria PresidentO? Pelo menos seria um bom motivo de mobilizar a população para discutir o problema da educação.
Indignação! Esta é a Palavra.
O governador e os deputados ganharam.
O governador, apoiado pelos deputados, fez valer as suas vontades: a Educação na Bahia tem que permanecer no lugar dela. Isto é, Educação na Bahia tem que estar a serviço do (des)governo; deve ser instrumento de alienação, de faz de conta, de marginalização.
Exemplo: - Por volta dos anos 2000, na Escola Estadual Vale dos Lagos, em Salvador, nas classes de 5ª à 8ª séries, uma técnica da Secretaria de Educação do Estado orientava os Professores para não reprovar porque o aluno do noturno da Escola Pública precisava apenas de saber ler, para pegar ônibus para o trabalho, e de conhecer as 04 operações, para saber passar troco num caixa de supermercado.
Indignação! Esta é a Palavra.
Os Professores devem servir para manter a aparência. As eleições estão próximas. Eles esquecem rápido. O governo só os deixou com fome por 115 dias. Eles já estão acostumados. Passar necessidade? Não é esta a sua rotina? O que mais eles querem? Choram de barriga vazia? Mas, não é esse o seu todo dia?
Afinal de contas, mereceram o castigo. Quem mandou tentar lutar por seus direitos?
Disseram que o governador prometeu? Mas o governador tem compromisso com o que promete ao povo? Professor não é povo?
Indignação! Esta é a palavra.
O educador Paulo Freire dizia que a educação deve ser um instrumento de libertação do indivíduo e referindo-se aos transgressores da ética como agentes de crueldade, alertou para o dever de lutar pelo respeito a todos os seres vivos e disse:
“Se nada disso, ao meu juízo, diminuiu a responsabilidade desses agentes de crueldade, o fato em si de mais esta trágica transgressão de ética nos adverte de como urge que assumamos o dever de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais como do respeito à vida dos seres humanos, à vida dos outros animais, à vida dos pássaros, à vida dos rios e das florestas”. (Freire, 2000, p.31)
Indignação! Esta é a palavra.
O baiano Prof. Milton Santos, grande educador e um dos maiores geógrafos do mundo, disse:
"A educação corrente e formal, simplificadora das realidades do mundo, subordinada à lógica dos negócios, subserviente às noções de sucesso, ensina um humanismo sem coragem, mais destinado a ser um corpo de doutrina independente do mundo real que nos cerca, condenado a ser um humanismo silente, ultrapassado, incapaz de atingir uma visão sintética das coisas que existem, quando o humanismo verdadeiro tem de ser constantemente renovado, para não ser conformista e poder dar resposta às aspirações efetivas da sociedade, necessárias ao trabalho permanente de recomposição do homem livre, para que ele se ponha à altura do seu tempo histórico." (Milton Santos, 2007, p.57)
E mais:
“Ora, entre os direitos do cidadão está o de manter todas as suas conquistas, obtidas pelo trabalho sob um qualquer regime político-social (…) e não é lícito que as regras de jogo assim constituídas possam ser rompidas ao bel-prazer de um funcionário”. (Milton Santos, 2007, p.33)
Indignação! Esta é a palavra.
E o aluno?
O que pensa?
O que faz?
Vai continuar aceitando essa Educação que lhe é oferecida?
Vai continuar acomodado nessa Educação por fases da vida?
E a Educação por toda a Vida?
Não vai lutar por ela?
Indignação! Esta é a palavra.
Será muito bom:
- quando o Povo da Bahia tirar a venda que o cega, sair da sua acomodação, acordar e partir para a luta por seus direitos;
- quando os políticos baianos entenderem que são colocados nos seus cargos pelo povo e para servir ao povo;
- quando os políticos baianos lembrarem que toda tirania é derrubada e que a queda é sempre desastrosa;
- quando os colegas Professores brigarem até o fim por seu espaço e se conscientizarem de que podem muito mais;
- quando houver motivos para se festejar a Educação na Bahia.
Indignação! Esta é a palavra.
Observação:
Indignação. [Do lat. Indignatione] S. f. 1. Sentimento de cólera despertado por ação indigna; ódio, raiva. 2. Desprezo, repulsa, aversão. (Dicionário)
Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e outros escritos. Apresentação de Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Ed. UNESP, 2000.
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7ª ed. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo. 2007.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª ed. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro. 1986.
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